terça-feira, 14 de maio de 2013

A vontade de ser sua mãe

Sophia, hoje vou te contar um pouco de como começou sua história... Mas, para não parecer história da carochinha vou deixar o David, pai do Bernardo, te contar como eu queria ser tua mãe.
 
Corrida para o laboratório
 
Um grande amigo meu, ele e a mulher resolveram procriar mais ou menos na mesma época em que eu e a Marcinha procriamos. Passaram aos trâmites. Aquela coisa, sabe como é: sexo.
Mas o troço não funcionava. Outro amigo, o Amilton Cavalo, que é do Alegrete, chegou a comentar:
- Mas, tchê, essa mulher não engloba!
É a autenticidade fronteiriça, o leitor, por favor, não se choque.
A mulher do meu amigo começou a pressioná-lo para que fizesse o espermograma, o testezinho aquele que fiz tempos atrás e sobre o qual inclusive escrevi. Meu amigo se recusava:
- Não preciso disso!
Só que ela não engravidava e aquilo estava deixando-a aflita. Aí publiquei a tal coluna do espermograma. Meu amigo lamentou:
- Agora vou ter que fazer esse troço também...
Como ele continuava acanhado e dizia que não iria entrar na tal Salinha da Masturbação, a mulher fez-lhe uma proposta: ela mesma iria colher o material de exame no recôndito do lar, a salvo de constrangimentos, e levá-lo ao laboratório. Meu amigo topou. O problema é que o esperma que precisa ser analisado simplesmente falece depois de 20 minutos de exposição ao oxigênio. Quer dizer: ela teria de ser rápida após a colheita do material. Era preciso montar uma logística.
Foi o que ela fez. Primeiro, buscou o potezinho plástico no laboratório. Contou no relógio em quanto tempo fez o trajeto: 13 minutos. Ou seja: tinha uma folga de sete minutos. Parecia o suficiente. Depois, escolheu um vestido fácil de vestir, sapatos e deixou-os à mão, ao lado da cama. A chave do carro ficou na ignição e a porta da garagem permaneceu aberta. Finalmente, chegou o momento da colheita. Fez os trabalhos e talicoisa. Meu amigo contribuiu com sua parte. Ela colocou o material de exame no pote, vestiu-se em 30 segundos e voou escada abaixo, rumo à garagem. Entrou no carro e se foi para o laboratório. O trânsito da manhã estava intenso. Consultou o relógio. Sobravam 16 minutos. A cada sinal, ela conferia o tempo. Quinze minutos. Ingressou numa rua vicinal para experimentar um atalho. Um erro. Havia um carroceiro na rua. Ela perdeu mais alguns segundos de ouro. Impaciente, dava socos no volante. Conseguiu livrar-se do carroceiro. Treze minutos. Mais uma sinaleira. Outra. E mais outra. Onze minutos. O carro zunia pelas avenidas, ignorando pardais e azuizinhos. Quando ela chegou ao prédio do laboratório, restavam cinco minutos. Não estacionou. Abandonou o carro, sem nem fechá-lo, e voou para a recepção. Não tomou o elevador, foi pelas escadas. Subiu os degraus de três em três. Quando atirou-se no balcão, ofegante, faltavam dois minutos para que se completassem os 20 mortais.
- Será que deu? - gritou. - Será que deu???
Deu.
Feito o teste, os espermas do meu amigo foram aprovados com louvor. Estavam bem vivos e lampeiros. Semanas depois, ela engravidou. Ele, orgulhoso, comentou:
- Eu disse que não precisava daquilo!

* David Coimbra - Texto publicado no caderno Meu Filho de Zero Hora em maio de 2008

3 comentários:

  1. ahuiaua, essa foi boa.. isso que acho o David Coimbra um bobalhão...mas este texto foi engraçado! Beijoos para vcs!
    http://antonellaesuaboneca.blogspot.com.br/

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  2. Respostas
    1. risos, fora o exagero "poético" do texto, a louca aqui não subiu as escadas até porque eram 8 andares e não tenho aula de step e nem dei socos no volante pois sou uma pessoa pacifica, mas confesso 90% é verídico! espero que vcs continuem nos visitando!

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